Monday, December 04, 2006

Herança destruída

Do monte, o velho me mostrou a chuva, a noite e o luar
As estações do ano, as flores, os frutos, o rio e o mar
Mostrou-me os bichos, seus filhotes e a natureza
E deu para mim essa herança, essa realeza

Assim que ele se afastou, a inveja me converteu num predador
Transformei-me num ser amargo, um destruidor
Resolvi a partir daquele momento, arrasar o universo
Unido com a ganância, tornei-me o ser mais perverso

Na floresta, com a minha foice, eu era o tal
Assolei quase todo ser vivo e vegetal
Demoli as cascatas, tornei impuro os rios e o mar
Queimei a mata e a fumaça poluiu o ar

Com os índios, fui um lucifer doloroso
Queimei as ocas e quase extingui seu povo
O canto dos bichos, muito me incomodava
Com minha armadilha, centenas ao dia eu matava

Hoje no mesmo monte, nada vejo, sou um desgraçado
Sem ar, sem água, estou numa mortalha de toco queimado
Rezo dia e noite para o velho voltar,
Para pedir desculpa e me sepultar

3 Comments:

Blogger Danilo SG said...

Muito legal essa poesia Bossi, quero ver quando forem tocar a versão musicada dela!
Um abraço,

12:09 PM  
Anonymous Anonymous said...

Oláaa,
Gostei!
Parabéns!
Para ser poeta é necessário ter
a sensibilidade aguçada, aflorada...
Beijosss

4:32 PM  
Anonymous Anonymous said...

Que beleza Poeta, quanta sensibilidade...que linda maneira como você lida com as palavras!!!
que privilégio enorme ter "conhecido" você!!! PARABÉNS !
beijão

4:03 PM  

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